quinta-feira, 25 de junho de 2020

Live do Ecomuseu de Sepetiba!



Na live desta semana o Ecomuseu de Sepetiba convida a todos para um bate papo com os maiores especialistas na história da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro! 

Entre eles o nosso amigo, escritor da série de livros "O velho Oeste Carioca" André Mansur, o Professor e historiador Guaraci Rosa, o escritor e historiador Adinalzir Pereira e o Professor Doutor Victor Melo que escreveu um belíssimo artigo sobre os clubes esportivos de Sepetiba! 

Vem com a gente aprender e desbravar o nosso Oeste Carioca depois do túnel !

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Passagem de nível em Paciência



Atravessar a linha férrea em Paciência, desde 1998, é prático e seguro, pois existe um viaduto próximo ao centro do bairro. Mas nem sempre foi assim, pois antes da construção a travessia era feita através da passagem de nível existente junto à estação ferroviária de Paciência. Esta passagem funcionou de 1897 até 1978, isto é, 81 anos de existência, e nela diversos acidentes aconteceram.

Em 1978 é inaugurada a nova estação de Paciência, e com isso ocorre o fechamento da passagem de nível (cancela) que ali existia. E, em vez de construir um viaduto, fizeram uma nova passagem de nível, desta vez próximo ao Grêmio de Paciência.

Infelizmente os acidentes continuaram. Não existe um morador antigo da Mata da Paciência que não se lembre de um acidente nessas cancelas. Em 1998, finalmente, surge o viaduto e consequentemente o fim dos desastres. Aliás esse moderno viaduto continua sem nome! A CAMEMPA (Casa da Memória Paciente) sugeriu há DOIS ANOS o nome "Viaduto Mata da Paciência"! Será que terá sucesso?

Por Guaraci Rosa (professor e historiador)

Revisão de texto - Professor Isra Toledo

Foto - Passagem de nível, próxima ao Grêmio de Paciência
Jornal O Fluminense - Data - Outubro de 1978

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Palacete Cultural antes da reforma



Mais uma foto do Palacete Cultural de Santa Cruz antes da reforma.
Foto - Arquivo Geral da Cidade do RJ
Pesquisa - Guaraci Rosa

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O Destacamento de Bombeiros Militar (DBM) de Santa Cruz



O "Destacamento de Bombeiros Militar" (DBM) de Santa Cruz, faz parte da história do bairro de Santa Cruz, vale lembrar que ele é uma subdivisão do "Grupo de Bombeiros Militar" (GBM) de Campo Grande.


A obra teve início no ano de 1943, duas das fotos acima mostram o prédio em construção já em fase final em 1944.


A inauguração aconteceu em 1944/1945 e foi motivo de festa no bairro, pois era uma reivindicação antiga dos moradores.

Pesquisa - Guaraci Rosa
Fonte - A.N

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Trem Automotriz



Linda foto mostrando um trem automotriz em Santa Cruz -RJ
Foto - Arquivo Nacional
Data - Década de 60
Pesquisa - Guaraci Rosa

Santa Cruz -RJ

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terça-feira, 2 de junho de 2020

O caso Manguariba



Na comunidade de Manguariba, no norte de Paciência, fica uma área de grande riqueza histórica e arqueológica. Lá ficam as ruínas do Engenho de Santo Antônio dos Palmares.

O local, nos seus primórdios, fez parte das terras dos índios da etnia tamoio. Depois que os índios foram expulsos e exterminados pelos colonizadores (invasores) portugueses, suas terras passaram a fazer parte do Engenho de Santo Antônio dos Palmares, pertencente à área da Fazenda de Engenho da Mata da Paciência, cujos proprietários eram o capitão-mor português, João Francisco da Silva e Sousa, e sua esposa, Mariana Eugênia Carneiro da Costa.

Na época do Brasil colonial e também na Monarquia, o engenho produzia aguardente, melado e açúcar, cuja produção era escoada por via fluvial, seguindo em direção à localidade hoje conhecida como Sagrado Coração (nas imediações de Manguariba), até chegar aos bairros de Jesuítas, Santa Cruz e Sepetiba.

Na Planta da Imperial Fazenda de Santa Cruz, do ano de 1848 (oito anos apenas após a morte de Mariana Eugênia), podemos ver a área do Engenho de Santo Antônio dos Palmares, em Manguariba, assinalada com precisão. Reproduzimos o mapa logo acima. Observe que há três pontos escuros do lado esquerdo da palavra Engenho, o que indica a existência de três “fogos”, prédios ou construções (podem ser habitações ou estrebarias). Na área da Mata da Paciência, mais abaixo, há cinco pontos escuros, bem colados à Estrada Geral (atual Avenida Cesário de Melo).

Veem-se também, no mapa, com precisão, a Estrada Geral (depois denominada Estrada Real de Santa Cruz), atualmente chamada Avenida Cesário de Melo, e a comunidade de Cantagalo (onde hoje se localiza o Cemitério Jardim da Saudade, na parte sul de Paciência, na estrada Visconde de Sinimbu).
Deve ter sido uma fábrica bastante produtiva, pelas dimensões das ruínas existentes até hoje no local. O canal contíguo às ruínas, atualmente sem utilização prática, era conduzido ao rio Guandumirim e, dali, seguia para o Porto de Sepetiba, de onde, presume-se, levava a carga de açúcar e aguardente para o centro do Rio de Janeiro e outros portos.

Com a chegada da República (em 1889), as terras do engenho tornaram-se foreiras após o ciclo do café. A partir dos anos 1930, até os anos 1960, com a chegada de imigrantes mineiros e portugueses, veio a riqueza dos laranjais.

Depois do ciclo cítrico, foi a época da criação de gado nelore (importado da Índia), e o destaque foi o surgimento da Fazenda Nova Índia, de propriedade de Luiz Carlos de Adriano Franco, admirador das belas artes e também colaborador do NOPH (Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz), além de vários outros sócios criadores de raças nobres bovinas.

A partir da década de 1980, com a decadência do negócio das fazendas de gado, começaram a ser construídos na região vários conjuntos habitacionais. O Conjunto Manguariba foi um deles, de frente para o Jardim Palmares. Hoje, em parte de seu terreno, está sendo implantado o complexo logístico da WT Goodman. A grande rede de supermercados Guanabara ostenta o seu maior depósito de mercadorias no local, às margens da Avenida Brasil. A Lillo do Brasil, multinacional da produção de mamadeiras e produtos infantis, e a indústria de rolamentos e engrenagens, Vesuvius, dominam vastas áreas da região histórica, a menos de um quilômetro das imponentes colunas de pedra do engenho.

Ainda falta descobrir o real significado da palavra Manguariba. Já foram consultados diversos dicionários etimológicos, inclusive da língua Tupi, mas nenhum deles nos apresenta uma definição precisa. Supõe-se, por analogia com outros sufixos de origem Tupi, que Manguariba poderia significar “lugar onde vivem espécies de rãs comestíveis”.

Segundo moradores mais antigos do local, toda a área em que hoje se encontram os conjuntos de Jardim Palmares, Manguariba, Sagrado Coração, Jesuítas e arredores eram “habitats” de várias espécies de rãs nos seus pântanos e terrenos alagadiços. Daí ser possível afirmar que Manguariba seria, de fato, “terra onde vivem rãs”.

Uma foto estampada num antigo número do jornal do NOPH (Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz) mostra um marco delimitador de terras, da época do Império, abandonado em meio ao mato que domina o local próximo às colunas de pedra. Infelizmente já foi retirado do local e não se sabe o seu paradeiro.


Até o ano de 2017, já foram construídas em Manguariba cerca de 6000 casas, com capacidade para alojar cerca de 24000 pessoas. Em 29 de agosto de 1983, começaram a chegar os primeiros moradores. Eram cerca de 90 famílias de funcionários da extinta Telerj, vindas em definitivo para morar no local. Foram os próprios caminhões da antiga companhia telefônica que fizeram o transporte dessas pessoas.

Ainda moravam no local alguns antigos empregados da Fazenda Nova Índia. Próximo à rua 19, morava a Dona Nair. Próximo à Escola Municipal Gandhi, morava o Sr. Manoel. Próximo ao Mercado Azulzinho, morava o Sr. Caduci. Próximo à rua 39, morava o Sr. Roberto.

Na pobre comunidade que crescia, os policiais andavam a cavalo pelas ruas estreitas. O comandante do Posto Policial Comunitário, Sargento Bandeira, era o terror dos desocupados e vagabundos de Manguariba. Com ele não havia diálogo e, quando acionava o camburão, prefixo telefônico 070, quem tivesse sem documento pela rua, ia direto para a “caçapa” (a microcela na parte traseira do veículo policial). Nessa época, o traficante de drogas que aterrorizava a região era o Sérgio “Zoiudo” (e seu bando que se ampliava a cada ano).

Não havia linha de ônibus interna na comunidade. A primeira linha que começou a circular por perto era a 845 (Campo Grande - Manguariba). Porém esse tipo de transporte não entrava totalmente no conjunto. Havia também uma unidade escolar particular denominada “Fada Sininho”. Um posto de saúde começou a funcionar, precariamente, com apenas um consultório, passando mais tarde a ter dez consultórios. No início, havia somente um médico clínico; depois passou a oferecer várias especialidades.

No ano de 1984, a Igreja Católica realizou a sua primeira missa na comunidade, na sede da Associação de Moradores, pois a Capela de Bom Jesus ainda estava em obras. No dia 1.o de dezembro de 1985, foi realizado o primeiro batizado na comunidade. E, na Escola Leila Mell, no ano de 1986, foi realizada a primeira cerimônia de primeira comunhão católica. No ano de 1988, realizou-se a primeira cerimônia de casamento. E só quatro anos depois, em 1992, foi inaugurado o prédio da atual capela de Manguariba.

Várias personalidades artísticas visitaram a comunidade. Entre elas, Beth Carvalho, Zeca Pagodinho e Beto Sem Braço (grande sambista, morto em 1993). Muitos moradores ainda se lembram de quando a Fazenda Nova Índia chegou a ser utilizada como cenário de uma novela da Rede Globo de Televisão.


Poucos moradores recordam-se hoje das antigas colunas do Engenho de Santo Antônio dos Palmares. A missão da CAMEMPA (Casa da Memória Paciente) é levar essa história às escolas locais, à guisa de aguçamento da curiosidade local por saber o que teria sido um dos mais modernos engenhos de cana-de-açúcar de toda a província fluminense. Outros moradores se recordam da enorme criação de gado nelore e de uma planta abundante no local chamada manguá, muito usada como correia para açoitar animais e para debulhar cereais, tais como feijão, soja, trigo, aveia etc. Outros se lembram da casa do caseiro da fazenda, onde moravam o Sr. Geraldo, sua esposa Dona Regina e seus filhos Moisés, Sandra e Luciana. Falavam também de um filhote grande de leão que havia no local. Citam também muitas lembranças de quando a Fazenda Nova Índia começou a criar búfalos e cavalos.

Segundo Léu Lima, artista plástico, militar reformado, um antigo morador da Mata da Paciência (atualmente residindo em Cosmos):

"Antes de se tornar um conjunto habitacional, uma parte das terras de Manguariba pertencia ao Sr. Paulo Albino. Capinei muito essas terras. Nos anos 1950 e 1960, o sítio foi dividido em grandes lotes, que eram cultivados pelo método do “terço”. De cada três caixas de frutas e legumes recolhidos, uma era do proprietário das terras. O cultivo era de aipim, batata, jiló, quiabo, guando etc."

O departamento de Arqueologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) visitou as ruínas manguaribenses (e as do centro de Paciência, na Serra da Paciência), a convite da CAMEMPA (Casa da Memória Paciente), no dia 1.o de setembro de 2018. O professor Paulo Roberto Gomes Seda e a professora Gláucia Aparecida Malerba Sene ouviram atentamente todas as informações históricas sobre os dois engenhos de Paciência, anotaram tudo o que foi possível (metragem, distância, altura, índices de GPS etc.) e prometeram iniciar um projeto de iniciação científica e pesquisa em toda a área da Mata da Paciência, o mais breve possível. A CAMEMPA prontificou-se a participar de todo o andamento do projeto, fornecendo todo o apoio necessário ao sucesso da iniciativa acadêmica original.

Fonte: Capítulo 9 do livro "Os dois engenhos de Paciência". Isra Toledo Tov, Adinalzir Lamego, Guaraci Rosa. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Autografia, 2019.

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